Já falamos aqui no Blog Tecassistiva sobre a volta às aulas dos alunos com deficiência visual. Um dos maiores desafios apontados pelas pessoas com quem conversamos é a falta de oportunidades para a PcD no mercado de trabalho. Nesse contexto, o papel da escola é fundamental, pois ajuda a pessoa a conquistar sua independência, ou seja, sentir-se segura de suas ações de forma a estar mais preparada para o mercado de trabalho. Por outro lado, se os empregos andam escassos para todos no país, a situação se agrava quando a pessoa tem alguma deficiência.

De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Benjamin Constant dois fatores prejudicam o ingresso de pessoas com deficiência visual
no mercado de trabalho: uma é a crença equivocada por parte dos empregadores que a deficiência incapacita por completo as pessoas. A outra é a falta de qualificação de muitos causada pela ausência de ações voltadas para a preparação profissional das PcD, além da falta de acesso delas aos cursos existentes. No entanto, existem exemplos que provam o contrário.

O Blog Tecassistiva conversou com Igor Moisés. Ele tem cegueira total desde o nascimento.  Atualmente aos 26 anos, trabalha como Assistente Administrativo no Magazine Luíza. A empresa é uma das maiores redes varejistas do país e conta atualmente com mais de 1136 lojas. Além disso, dispõe de 17 centros de distribuição e 3 escritórios, espalhados por 16 estados.

Confira a entrevista:

Quais foram seus maiores desafios nos estudos e na vida profissional? 

Nos estudos, o meu maior desafio foi fazer uma faculdade, me graduar em Pedagogia e pós-graduar em Educação Especial com ênfase em deficiência visual e sistema Braille. Durante os cursos tive algumas dificuldades com os materiais adaptados. Mas com a ajuda das universidades, da família e dos colegas de classe consegui superar todas essas limitações e me formar.  Hoje me sinto realizado por isso. Na vida profissional, o meu maior desafio foi estar dentro do mercado de trabalho, pois sempre tive um sonho de trabalhar. Sempre quis ter uma vida digna, ter minha autonomia, e a empresa Magazine Luíza foi responsável por esse progresso.

A tecnologia o ajudou em algum momento? Como?

A tecnologia me ajudou muito tanto na vida pessoal como na profissional, pois sem ela eu não teria chegado onde cheguei, não teria concluído o Ensino Superior, não estaria no mercado de trabalho e não conseguiria desenvolver as minhas tarefas profissionais. Ela foi responsável também pela minha independência, pois através de aplicativos de transporte consigo ir para qualquer lugar sem dificuldades. 

Existe algum equipamento que você gostaria de ter?

Gostaria de ter o FingerReader, um anel que possibilita aos deficientes visuais lerem livros que não tem em Braille, ou a WeWalk, uma bengala inteligente, que nos avisa sobre os obstáculos.

Você se sentia intimidado para entrar no mercado de trabalho por causa da sua deficiência? Pode comentar um pouco sobre como se sentia?

Sim. Tinha receio de não ser aceito entre os colegas de trabalho, tinha medo de não conseguir as adaptações necessárias para exercer as minhas funções, tinha medo de que as pessoas não tivessem confiança no meu trabalho, de não ser reconhecido como uma pessoa normal, com apenas algumas limitações. Mas a partir do momento que comecei a fazer parte do mercado de trabalho, percebi que não era bem assim, e que tinha mais potencial do que eu mesmo imaginava.

Como foi sua entrada no mercado de trabalho? Teve muita dificuldade em conseguir um emprego? 

Entrei no mercado de trabalho através de um curso que foi oferecido pela parceria entre o Magazine Luiza e o Senai. Não tive dificuldade, pois graças a esse curso, as portas da empresa foram abertas para mim.

Como foi seu processo seletivo no Magazine Luíza? Quando você entrou na empresa? Você ainda estudava na época?

Eu cursava o terceiro colegial. O processo seletivo foi através de uma entrevista. Foi um processo muito desafiador, pois nunca tinha trabalhado e também nunca tinha feito uma entrevista de emprego. Acredito também que foi um desafio muito grande para a empresa ter uma pessoa com deficiência visual total em seu quadro de funcionários. Entrei em outubro de 2013 e estou até hoje.

Qual é sua função na empresa hoje? Pode nos contar como foi sua trajetória desde que foi efetivado até hoje?

Atuo como Assistente Administrativo I. Inicialmente, entrei para trabalhar no Help Desk. Fiquei lá de julho  a novembro de 2013. Com a mudança das ferramentas de trabalho, não tive mais acessibilidade e precisei mudar para o setor de Operações de Lojas. Permaneci lá por 5 anos. O ano passado fui para o setor de Gestão Corporativa, porém fiquei pouco tempo nessa área, pois surgiu a oportunidade de participar de um projeto da empresa dentro do Suporte Técnico, que é onde estou até hoje.

Como é sua relação com seus colegas de trabalho?

A melhor possível. Eles me tratam como uma pessoa sem deficiência, não me veem como incapaz, delegam funções para mim, como também para toda a equipe.

Existe alguma realização profissional da qual você tem orgulho? Pode comentar?

Sim. Tenho uma felicidade imensa em trabalhar, em ter ajudado e estar ajudando a empresa a crescer, de fazer parte do grupo Magazine Luiza, de contribuir cada vez mais com a empresa e com o Programa de Inclusão, de ajudar nas adaptações necessárias, não só para mim, mas também para outras deficiências. Posso citar como realização profissional, ter participado e contribuído com o projeto de implantação dos leitores biométricos para marcação de ponto em todas as lojas do Brasil, conseguindo cumprir a meta antes do prazo estipulado.

O que você gostaria de dizer às pessoas com deficiência sobre o desafio de ingressar no mercado de trabalho? Que conselho você daria a essas pessoas?

Não é fácil ingressar no mercado de trabalho, mas nem por isso devemos desistir. Barreiras existem, mas elas podem ser quebradas. Não é porque temos alguma deficiência que vamos desistir no primeiro obstáculo. O conselho que eu dou é que, mesmo que pareça difícil, não desista dos sonhos profissionais, pois tudo acontece na hora certa e a oportunidade aparecerá.

Tem algo mais que gostaria de destacar?

A deficiência não nos impede de nada, podemos estudar, trabalhar, sermos independentes, passear, casar, ter filhos. Então basta que tenhamos força de vontade e que corramos atrás dos nossos sonhos e objetivos, que vamos conseguir alcançar tudo o que desejarmos, independente das nossas limitações.

Inclusão

A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho ganhou grande impulso em 1991 com a criação da Lei nº 8.213/91. Em seu artigo 93 a lei determina que a empresa deve reservar um percentual de vagas para beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência, nas seguintes proporções: entre 100 e 200 funcionários, deve ter até 2% das vagas preenchidas por pessoas com deficiência; de 201 a 500 funcionários, 3% das vagas; de 501 a 1000, 4%, e, acima de 1.000, as vagas preenchidas por pessoas com deficiência ou beneficiários reabilitados é de 5%.

O Grupo Magazine Luíza conta atualmente com 1250 colaboradores que têm algum tipo de deficiência. De acordo as com as Assistentes Sociais do Grupo, Joice Costa e Josiane Freitas, a empresa sempre teve como premissa a diversidade, a inclusão e a valorização das pessoas. Elas contam que a política de inclusão traz ganhos para empresa no sentido de reforçar a diversidade e possibilitar o desenvolvimento de todos, independente da deficiência. “A presença da PcD gera uma mobilização contínua por parte dos outros colaboradores, sendo mais cuidadosos uns com os outros e valorizando mais o trabalho, contribuindo para o aumento da energia e positividade no ambiente”, afirma Josiane.

Joice comenta que, entre os principais desafios da empresa, destaca-se a procura por pessoas com deficiência, que tenham o mínimo de qualificação e estejam dispostas a abrir mão do benefício (BPC). “Em muitos momentos falta apoio e encorajamento da família na inserção do PcD no mercado de trabalho. Outro agravante é a falta de acessibilidade nas cidades, sejam grandes centros ou interior”, destaca Joice. “Além disso, apesar de ser baixa baixa a incidência, ainda nos deparamos com a resistência e falta de preparo de algumas lideranças na inserção e integração do PcD na equipe, buscamos diariamente quebrar esses paradigmas, além da busca constante das adequações prediais”, completa Josiane. 

Programa Alta Performance

O Magazine Luíza desenvolve um programa chamado Alta Performance que busca estabelecer a inserção da pessoa com deficiência, por meio da identificação das necessidades de cada um e acompanhamento individual do desempenho. A ideia é que o colaborador consiga alcançar com sucesso as metas propostas pela empresa. Para isso, o programa conta com Assistentes Sociais, Psicopedagoga, Terapeuta Ocupacional e Intérprete de Libras, especialistas no acompanhamento e desenvolvimento das pessoas com deficiência.

De acordo com Joice, um desafio atual do programa é construir uma sólida parceria com associações de pessoas com deficiências nas cidades, para indicação de candidatos. “Para disso, buscamos formar uma equipe de Gestão de Pessoas e Líderes capacitados, que contribuam para a retenção desse público”, revela Joice. Outro desafio é apontado por Josiane. Trata-se da capilaridade de empresa que tem mais de 1136 lojas distribuídas em 17 estados. “Estamos em constante esforço para estreitar cada vez mais os vínculos com os colaboradores e manter um canal direto de comunicação como nossa equipe, apesar da distância”, comenta Josiane.

E os esforços do programa têm gerado resultados. Josiane conta que os colaboradores com deficiência relatam satisfação em fazer parte da empresa. “Mensuramos os resultados com base no turnover desse público. Além disso, por meio das ações de sensibilização que realizamos na chegada de cada novo colaborador PcD, notamos que a maioria dos colaboradores são muito receptivos”, conta Josiane. “Concretizar a inclusão é algo desafiador, mas é possível a partir do momento que passamos a olhar para as pessoas e não apenas para a deficiência”, completa Joice.

Sites de emprego que atendem pessoas com deficiência

Agora que provamos que a inclusão é perfeitamente possível no mercado de trabalho, enumeramos alguns sites de emprego que apresentam vagas para PcDs. 

Magazine Luíza: O grupo vem abrindo novas filiais e oferece diversas vagas para Pessoas com Deficiência.  

Deficiente Online: O portal oferece vagas e um banco de currículos específicos para PcDs, para mais de mil empresas cadastradas.

Emprego PPDS: Exclusivo para o anúncio de vagas destinadas a pessoas com deficiência. Oferece vagas em diversas áreas além de contar com um banco de currículos para empresas interessadas em contratar esses profissionais.

Pessoas com Deficiência, Divulga vagas para PcDs, além de oferecer um portal de notícias e de artigos relacionados ao tema.

Vagas.com Líder em anúcios de emprego no Brasil, possui uma página específica para anúncios e vagas de emprego para pessoas com deficiência.

Emprega PCD: São diversas oportunidades de emprego e de estágio para pessoas com deficiência de todo o Brasil. Os profissionais em busca de recolocação podem cadastrar gratuitamente seu currículo e a partir de então se candidatar diretamente nas vagas anunciadas no site. 

Oportunidades Especiais: Oferece vagas exclusivas para profissionais PcDs além de outros serviços, como o envio de vagas pelo WhatsApp, entre outras, como calendário de oportunidades em ações em shopping centers.

Rede Cidadã: Trata-se de uma organização não governamental voltada ao trabalho social. A inciativa criou o projeto “Rede Inclusiva”, que capacita e busca inserir o PcD no mercado de trabalho, além de acompanhar o profissional com deficiência no mercado de trabalho. 

E aí? Animado para buscar seu espaço no mercado de trabalho? Com a busca por qualificação e esforço certamente encontrará a vaga que estava esperando por você!