Nova tecnologia faz espanhola voltar a enxergar após 15 anos
Sempre atento a tecnologia para favorecer a pessoa com deficiência visual, o Blog Tecassistiva vem informar uma grande novidade, em desenvolvimento: uma mulher cega conseguiu enxergar graças a uma nova tecnologia desenvolvida na Espanha. Bernardeta Gómez, de 57 anos, sofre de neuropatía óptica tóxica, condição que a fez perder completamente a visão há 15 anos. Pesquisadores da Universidade de Miguel Hernandez conectaram um dispositivo ao cérebro de Bernardeta que a ajudou a reconhecer luzes, letras, formas e até pessoas.
Como funciona
Uma câmera embutida acoplada num par de óculos registra o que seria o campo de visão de Bernardeta e o envia para um computador. O computador converte os dados em impulsos elétricos que o cérebro pode ler e os encaminha para um implante por meio de um cabo conectado ao crânio. O implante, por sua vez, estimula os neurônios no córtex visual e o cérebro interpreta como informação sensorial recebida.
O estudo é conduzido por Eduardo Fernandez, diretor de neuroengenharia da Universidade, e ainda está em fase inicial. Entretanto, graças ao novo processo, Bernardeta passou a perceber uma representação em baixa resolução de seus arredores em forma de pontos e manchas amarelas. Eles são chamados de fosfenos, e ela aprendeu a interpretá-los como objetos ao seu redor. A equipe pretende porém trabalhar com mais cinco pacientes nos próximos anos.
Não é a primeira vez que os pesquisadores usam a tecnologia para ajudar os cegos a verem novamente. As retinas artificiais já existem há cerca de duas décadas e vem ajudando pessoas que sofrem de doenças que afetam a retina. Os sistemas Argus da empresa Second Sight, por exemplo, também usam uma câmera acoplada a um par de óculos e um computador para traduzir dados sensoriais. A diferença é que no sistema antigo, o implante é incorporado à retina e não ao cérebro. Esses “olhos biônicos” já são comercializados a pacientes elegíveis desde 2011 na União Europeia e 2013 nos EUA. Segundo a MIT Technology Review, cerca de 350 pessoas usam o sistema. Essa tecnologia, porém, não pode ajudar em casos como o de Bernardeta em que a cegueira se origina além da retina. Já a nova tecnologia, testada por Bernardete envia sinais diretamente para o córtex visual do cérebro, sem que a informação tenha que passar pelos olhos.
No ano passado, a Second Sight participou de pesquisas em parceria com a UCLA e Baylor, testando um sistema que também envia informações visuais diretamente ao cérebro. O sistema, chamado Orion, é semelhante ao Argus II. Uma câmera de vídeo acoplada a um par de óculos envia informações que são convertidas em pulsos elétricos, que por meio de um implante, estimulam o cérebro. O dispositivo é sem fio e inclui um botão para amplificar objetos escuros ao sol ou objetos claros no escuro. Assim como no sistema de Fernandez, o usuário vê um padrão de fosfenos de baixa resolução que interpreta como objetos.
Desafios e Perspectivas
Apesar de as pesquisas serem muito promissoras, os implantes cerebrais são muito mais arriscados que os implantes oculares e pode levar anos até que esses novos dispositivos sejam amplamente utilizados para além da pesquisa. No entanto, as interfaces cérebro-máquina (IMC) vêm avançando de forma acelerada em diversas frentes.
O implante usado na pesquisa de Fernandez é um dispositivo bastante comum chamado “Array”. A matriz tem milímetros de largura e contém eletrodos que são inseridas no cérebro. Cada um deles estimula alguns neurônios. Atualmente, implantes semelhantes ajudam pessoas com paralisia a controlar braços robóticos ou digitar mensagens apenas com seus pensamentos.
Um dos grandes desafios dos pesquisadores agora é que os eletrodos podem danificar o tecido cerebral deteriorando-o rapidamente. O dispositivo ideal seria sem fio, duraria por muitos anos no cérebro – limitando o número de cirurgias necessárias – e ofereceria maior precisão e resolução. Ferndandez acredita que seu implante pode ser aprimorado para durar décadas e, embora a resolução máxima atual seja de 10 por 10 pixels, ele acredita que poderá chegar a implantar até 6 em cada lado do cérebro para fornecer uma resolução de, pelo menos, 60 por 60 pixels.
O processo desenvolvido pela equipe de Fernandez é bem mais do que hardware. A equipe usou inteligência artificial, por exemplo, para escrever o software que traduz informações visuais em código neural. Isso pode ser refinado ainda mais, nos próximos anos, à medida que eles trabalham no sistema como um todo.
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